Estenose Aórtica

Uma condição cardíaca silenciosa

DOENÇAS CARDIOVASCULARES

Dr. Luis A G Tamayo CRM 188085 SP, RQE 90114 - 901141

2/18/20255 min read

Estenose Aórtica: O que você precisa saber sobre essa condição cardíaca silenciosa

Introdução

A estenose aórtica é uma condição cardíaca que afeta milhares de brasileiros, muitas vezes de forma silenciosa, até que sintomas graves apareçam. Essa condição caracteriza-se pelo estreitamento da válvula aórtica, dificultando a passagem do sangue do coração para a aorta - a principal artéria do corpo humano. Este artigo visa esclarecer dúvidas comuns sobre esta condição, explorando desde o diagnóstico precoce até as mais modernas opções de tratamento disponíveis atualmente.

O que é a estenose aórtica?

A estenose aórtica ocorre quando a válvula aórtica, que normalmente tem a largura de uma moeda, se estreita até o tamanho aproximado de uma moeda de 10 centavos ou menor. Este estreitamento força o coração a trabalhar mais intensamente para bombear sangue através da válvula estreitada, podendo levar, com o tempo, à insuficiência cardíaca.

As principais causas incluem:

  • Calcificação relacionada à idade (mais comum em pessoas acima de 65 anos)

  • Malformação congênita da válvula (presente desde o nascimento)

  • Febre reumática (complicação de uma infecção estreptocócica não tratada)

Sintomas: quando suspeitar

A estenose aórtica é frequentemente chamada de "assassina silenciosa" porque pode não apresentar sintomas por décadas, até atingir estágios avançados. Os sintomas clássicos incluem:

  • Falta de ar, especialmente durante atividades físicas

  • Dor ou pressão no peito (angina)

  • Tontura ou desmaio durante esforço físico

  • Palpitações cardíacas

  • Fadiga inexplicada

É importante destacar que quando os sintomas aparecem, a doença geralmente já está em estágio avançado, reforçando a importância do check-up cardiológico regular.

Diagnóstico: a importância do check-up cardiológico

O diagnóstico precoce da estenose aórtica pode salvar vidas. Durante uma consulta cardiológica, o médico pode detectar um sopro cardíaco característico através do estetoscópio - muitas vezes o primeiro sinal da condição. Para confirmação diagnóstica, são fundamentais:

Ecocardiograma

Este exame ultrassonográfico do coração é considerado o "padrão-ouro" para diagnóstico da estenose aórtica. Permite visualizar:

  • A estrutura e movimento da válvula aórtica

  • O grau de estreitamento

  • A velocidade do fluxo sanguíneo através da válvula

  • O impacto no funcionamento do ventrículo esquerdo

Angiotomografia cardíaca

A angiotomografia permite uma visualização detalhada da anatomia cardíaca e vascular, sendo especialmente útil para:

  • Quantificar a calcificação valvar

  • Avaliar a anatomia da raiz aórtica

  • Planejar procedimentos de intervenção como o TAVI/TAVR

  • Excluir doença coronariana concomitante

Cálculo de risco cardiovascular: por que é essencial?

O cálculo de risco cardiovascular vai além do diagnóstico isolado da estenose aórtica. Ele avalia fatores como:

  • Idade e sexo

  • Pressão arterial

  • Níveis de colesterol

  • Presença de diabetes

  • Histórico familiar

  • Tabagismo

Através deste cálculo, o cardiologista pode definir estratégias personalizadas de prevenção primária (antes que qualquer evento cardiovascular ocorra) ou secundária (após um evento como infarto ou AVC).

Opções terapêuticas modernas

O tratamento da estenose aórtica evoluiu significativamente nas últimas décadas. As opções incluem:

Acompanhamento clínico

Para casos leves a moderados, com monitoramento regular através de exames.

Substituição cirúrgica da válvula aórtica

Procedimento tradicional onde a válvula doente é removida cirurgicamente e substituída por uma prótese.

TAVI/TAVR (Implante Valvar Aórtico Transcateter)

Uma revolução no tratamento, especialmente para pacientes de alto risco cirúrgico. Neste procedimento minimamente invasivo, uma nova válvula é implantada através de um cateter, sem necessidade de cirurgia aberta. As vantagens incluem:

  • Recuperação mais rápida

  • Menor tempo de internação

  • Excelente opção para idosos ou pacientes com múltiplas comorbidades

  • Alta taxa de sucesso (superior a 95% em centros especializados)

De acordo com as diretrizes mais recentes da Sociedade Brasileira de Cardiologia e da American Heart Association, o TAVI/TAVR já é considerado tratamento de primeira linha para pacientes idosos e de alto risco cirúrgico, com resultados equiparáveis ou superiores à cirurgia convencional (Otto et al., 2021).

Preservando sua idade vascular

O conceito de "idade vascular" refere-se à condição real dos seus vasos sanguíneos, que pode diferir significativamente da sua idade cronológica. Uma pessoa de 50 anos com múltiplos fatores de risco pode ter vasos equivalentes aos de alguém de 70 anos.

O acompanhamento cardiológico regular permite:

  • Monitorar o progresso de condições como a estenose aórtica

  • Ajustar medicações e intervenções conforme necessário

  • Orientar modificações no estilo de vida para reduzir riscos

Prevenção: os pilares de uma vida cardiovascular saudável

Mesmo para quem já tem diagnóstico de estenose aórtica, a prevenção de complicações é fundamental:

  1. Alimentação balanceada: dieta rica em vegetais, frutas, grãos integrais e baixa em sódio e gorduras saturadas

  2. Atividade física regular: conforme orientação médica e respeitando os limites impostos pela condição

  3. Controle de pressão arterial e colesterol

  4. Abandono do tabagismo

  5. Controle do estresse

  6. Adesão ao tratamento medicamentoso prescrito pelo cardiologista

A importância do especialista

O cardiologista clínico é o profissional mais indicado para:

  • Interpretar corretamente os exames (ecocardiograma, angiotomografia)

  • Individualizar o tratamento conforme as características de cada paciente

  • Monitorar a progressão da doença

  • Indicar o momento ideal para intervenções como TAVI/TAVR

  • Coordenar uma equipe multidisciplinar quando necessário

Conclusão

A estenose aórtica, embora séria, pode ser adequadamente manejada com diagnóstico precoce e acompanhamento especializado. O check-up cardiológico regular, a atenção aos sintomas e as modernas opções terapêuticas permitem que pacientes com esta condição mantenham boa qualidade de vida e reduzam significativamente o risco de complicações graves.

Não espere o aparecimento de sintomas - consulte regularmente um cardiologista e invista na saúde do seu coração. Lembre-se: prevenção é sempre o melhor tratamento.

Referências Bibliográficas

1. Baumgartner, H., Falk, V., Bax, J. J., De Bonis, M., Hamm, C., Holm, P. J., ... & Zamorano, J. L. (2017). 2017 ESC/EACTS Guidelines for the management of valvular heart disease. European Heart Journal, 38(36), 2739-2791.

2. Otto, C. M., Nishimura, R. A., Bonow, R. O., Carabello, B. A., Erwin, J. P., Gentile, F., ... & Writing Committee Members. (2021). 2020 ACC/AHA guideline for the management of patients with valvular heart disease: A report of the American College of Cardiology/American Heart Association Joint Committee on Clinical Practice Guidelines. Circulation, 143(5), e72-e227.

3. Tarasoutchi, F., Montera, M. W., Ramos, A. I. O., Sampaio, R. O., Rosa, V. E. E., Accorsi, T. A. D., ... & Moretti, M. A. (2020). Atualização das Diretrizes Brasileiras de Valvopatias – 2020. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 115(4), 720-775.

4. Carabello, B. A. (2013). Introduction to aortic stenosis. Circulation research, 113(2), 179-185.

5. Thaden, J. J., Nkomo, V. T., & Enriquez-Sarano, M. (2014). The global burden of aortic stenosis. Progress in cardiovascular diseases, 56(6), 565-571.

6. Vahanian, A., Beyersdorf, F., Praz, F., Milojevic, M., Baldus, S., Bauersachs, J., ... & ESC/EACTS Scientific Document Group. (2022). 2021 ESC/EACTS Guidelines for the management of valvular heart disease. European heart journal, 43(7), 561-632.

7. Leon, M. B., Smith, C. R., Mack, M. J., Makkar, R. R., Svensson, L. G., Kodali, S. K., ... & PARTNER 2 Investigators. (2016). Transcatheter or surgical aortic-valve replacement in intermediate-risk patients. New England Journal of Medicine, 374(17), 1609-1620.

8. Ponikowski, P., Voors, A. A., Anker, S. D., Bueno, H., Cleland, J. G., Coats, A. J., ... & van der Meer, P. (2016). 2016 ESC Guidelines for the diagnosis and treatment of acute and chronic heart failure. European heart journal, 37(27), 2129-2200.