Como Escolher o Dispositivo Ideal para o Implante de Válvula Aórtica Transcateter (TAVI)

Revolucionando o Tratamento da Estenose Aórtica:

CARDIOPATIA ESTRUTURAL: TRATAMENTO PERCUTÂNEO DE DEFEITOS CONGÊNITOS E PROBLEMAS VALVULARES

Luis A G Tamayo CRM 188085 SP RQE 90114

4/13/20256 min read

Revolucionando o Tratamento da Estenose Aórtica: Como Escolher o Dispositivo Ideal para o Implante de Válvula Aórtica Transcateter (TAVI)

A estenose aórtica é uma condição cardíaca séria que afeta milhares de brasileiros, especialmente pessoas idosas. Quando a válvula aórtica—responsável por garantir o fluxo adequado de sangue do coração para o resto do corpo—se estreita, surge a necessidade de substituí-la. Nos últimos anos, o implante de válvula aórtica transcateter (TAVI) emergiu como uma alternativa menos invasiva à cirurgia convencional. Mas como é feita a escolha do dispositivo ideal para cada paciente? Vamos explorar esse tema fundamental para quem enfrenta essa condição ou tem um familiar nessa situação.

Entendendo a Estenose Aórtica

Antes de falarmos sobre os dispositivos, é importante entender a condição. A estenose aórtica ocorre quando a válvula aórtica se calcifica e endurece com o tempo, dificultando sua abertura completa. Isso força o coração a trabalhar mais para bombear sangue, podendo levar a sintomas como:

  • Falta de ar durante atividades

  • Dor no peito (angina)

  • Tonturas ou desmaios

  • Cansaço excessivo

  • Palpitações

Quando esses sintomas se tornam significativos ou quando exames mostram comprometimento da função cardíaca, é necessário considerar a substituição da válvula.

O que é TAVI?

O TAVI (Implante de Válvula Aórtica Transcateter) é um procedimento minimamente invasivo que permite a substituição da válvula aórtica sem necessidade de cirurgia cardíaca aberta. O procedimento é realizado através de um cateter inserido geralmente pela artéria femoral na virilha, sendo guiado até o coração para implantar a nova válvula.

Escolhendo o Dispositivo Ideal: Fatores Determinantes

A escolha do dispositivo para TAVI não é simples e envolve diversos fatores que são analisados por uma equipe multidisciplinar composta por cardiologistas intervencionistas, cirurgiões cardíacos, radiologistas e especialistas em imagem. Vamos entender os principais aspectos considerados:

1. Anatomia do Paciente

Um dos fatores mais importantes na escolha do dispositivo é a anatomia do paciente:

  • Tamanho do anel aórtico: Cada paciente tem um tamanho específico de anel aórtico que precisa ser medido com precisão através de tomografia computadorizada

  • Anatomia das artérias coronárias: A proximidade das artérias coronárias ao anel aórtico pode influenciar na escolha

  • Calcificação da válvula: O padrão e a intensidade da calcificação são fatores cruciais

  • Características da aorta e dos vasos de acesso: O diâmetro, tortuosidade e calcificação dos vasos por onde passará o cateter

2. Tipos de Dispositivos Disponíveis

Existem diferentes tipos de válvulas disponíveis no mercado brasileiro, cada uma com características próprias:

  • Válvulas expansíveis por balão: Como a Edwards Sapien, são implantadas através da expansão por um balão

  • Válvulas autoexpansíveis: Como a Medtronic CoreValve e Boston Acurate, que se expandem sozinhas quando liberadas

  • Válvulas mecanicamente expansíveis: Como a Boston Lotus Edge (não mais disponível comercialmente)

Cada tipo tem vantagens específicas em diferentes cenários anatômicos e clínicos.

3. Experiência do Operador

Um fator que muitas vezes não é discutido abertamente, mas é extremamente importante, é a experiência do cardiologista intervencionista com determinados dispositivos. Centros e médicos com grande volume de procedimentos tendem a ter melhores resultados. Alguns pontos importantes:

  • Equipes experientes conseguem prever e manejar possíveis complicações com maior eficácia

  • A curva de aprendizado com cada tipo de dispositivo é significativa

  • Centros de excelência costumam ter experiência com múltiplos dispositivos, permitindo escolher o mais adequado para cada caso

4. Evidências Científicas

A escolha também é baseada em evidências científicas sólidas:

  • Estudos clínicos randomizados comparando diferentes dispositivos

  • Registros de longo prazo mostrando durabilidade das válvulas

  • Diretrizes internacionais e brasileiras que são periodicamente atualizadas

Tecnologias Complementares que Melhoram os Resultados

Além da escolha da válvula em si, diversas tecnologias têm contribuído para melhorar os resultados do TAVI:

  • Imageamento avançado: Tomografia computadorizada, ecocardiograma tridimensional e fusão de imagens permitem planejamento preciso

  • Sistemas de navegação: Auxiliam no posicionamento ideal da válvula

  • Dispositivos de proteção cerebral: Reduzem o risco de eventos embólicos durante o procedimento

  • Técnicas para reduzir complicações vasculares: Como o uso de sistemas de fechamento vascular

Complicações e Como São Gerenciadas

Nenhum procedimento é isento de riscos, e o TAVI não é exceção. Porém, os avanços tecnológicos e a experiência crescente têm reduzido significativamente as complicações:

  • Vazamento paravalvular: Quando há escape de sangue ao redor da válvula implantada

  • Distúrbios de condução cardíaca: Podendo necessitar implante de marcapasso

  • Complicações vasculares: Relacionadas ao acesso para o cateter

  • Eventos embólicos: Como AVC ou embolia de outros órgãos

  • Obstrução coronariana: Uma complicação rara, mas potencialmente grave

A experiência da equipe médica é fundamental para prevenir e tratar prontamente essas complicações, com taxas de sucesso cada vez maiores.

TAVI vs. Cirurgia Convencional: Quando Cada Uma é Indicada?

Tradicionalmente, o TAVI era indicado apenas para pacientes considerados de alto risco para cirurgia convencional. No entanto, evidências recentes expandiram suas indicações:

  • Pacientes de alto risco cirúrgico: TAVI é geralmente a primeira escolha

  • Pacientes de risco intermediário: Ambas as opções são viáveis, dependendo de características específicas

  • Pacientes de baixo risco: Estudos recentes mostraram bons resultados com TAVI mesmo neste grupo

A Importância da Avaliação por um Heart Team

Para determinar a melhor estratégia de tratamento, é essencial que o caso seja discutido por um "Heart Team" - equipe multidisciplinar composta por:

  • Cardiologista clínico

  • Cardiologista intervencionista

  • Cirurgião cardíaco

  • Especialista em imagem cardíaca

  • Anestesista cardíaco

Esta abordagem garante que todos os aspectos do caso sejam considerados e que a melhor decisão seja tomada para cada paciente individualmente.

Conclusão: Buscando o Especialista Certo

Se você ou um familiar foi diagnosticado com estenose aórtica grave, é fundamental buscar uma avaliação com especialistas que tenham experiência tanto em cirurgia convencional quanto em TAVI. Isso garantirá que todas as opções sejam consideradas e que a escolha do dispositivo, quando indicado o TAVI, seja a mais adequada para seu caso específico.

Lembre-se que a medicina é personalizada e que cada caso é único. As evidências científicas evoluem rapidamente e novas tecnologias surgem a cada ano, tornando essencial manter-se informado e buscar centros com experiência comprovada.

O diálogo aberto com seu médico é essencial para esclarecer todas as dúvidas e compreender completamente as opções disponíveis. Não hesite em pedir uma segunda opinião se sentir necessidade, especialmente em decisões tão importantes como esta.

Referências

Baumgartner, H., Falk, V., Bax, J. J., De Bonis, M., Hamm, C., Holm, P. J., Iung, B., Lancellotti, P., Lansac, E., Rodriguez Muñoz, D., Rosenhek, R., Sjögren, J., Tornos Mas, P., Vahanian, A., Walther, T., Wendler, O., Windecker, S., Zamorano, J. L., & ESC Scientific Document Group. (2017). 2017 ESC/EACTS Guidelines for the management of valvular heart disease. European Heart Journal, 38(36), 2739-2791.

Otto, C. M., Nishimura, R. A., Bonow, R. O., Carabello, B. A., Erwin, J. P., Gentile, F., Jneid, H., Krieger, E. V., Mack, M., McLeod, C., O'Gara, P. T., Rigolin, V. H., Sundt, T. M., Thompson, A., & Toly, C. (2021). 2020 ACC/AHA Guideline for the Management of Patients With Valvular Heart Disease: A Report of the American College of Cardiology/American Heart Association Joint Committee on Clinical Practice Guidelines. Circulation, 143(5), e72-e227.

Tarasoutchi, F., Montera, M. W., Ramos, A. I. O., Sampaio, R. O., Rosa, V. E. E., Accorsi, T. A. D., Santis, A. S. L., Fernandes, J. R. C., Spina, G. S., Sampaio, R. O., & Sociedade Brasileira de Cardiologia. (2020). Atualização das Diretrizes Brasileiras de Valvopatias – 2020. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 115(4), 720-775.

Makkar, R. R., Thourani, V. H., Mack, M. J., Kodali, S. K., Kapadia, S., Webb, J. G., Yoon, S. H., Trento, A., Svensson, L. G., Herrmann, H. C., Szeto, W. Y., Miller, D. C., Satler, L., Cohen, D. J., Dewey, T. M., Babaliaros, V., Williams, M. R., Kereiakes, D. J., Zajarias, A., ... Leon, M. B. (2020). Five-Year Outcomes of Transcatheter or Surgical Aortic-Valve Replacement. New England Journal of Medicine, 382(9), 799-809.

Popma, J. J., Deeb, G. M., Yakubov, S. J., Mumtaz, M., Gada, H., O'Hair, D., Bajwa, T., Heiser, J. C., Merhi, W., Kleiman, N. S., Askew, J., Sorajja, P., Rovin, J., Chetcuti, S. J., Adams, D. H., Teirstein, P. S., Zorn, G. L., Forrest, J. K., Tchétché, D., ... Reardon, M. J. (2019). Transcatheter Aortic-Valve Replacement with a Self-Expanding Valve in Low-Risk Patients. New England Journal of Medicine, 380(18), 1706-1715.

Mack, M. J., Leon, M. B., Thourani, V. H., Makkar, R., Kodali, S. K., Russo, M., Kapadia, S. R., Malaisrie, S. C., Cohen, D. J., Pibarot, P., Leipsic, J., Hahn, R. T., Blanke, P., Williams, M. R., McCabe, J. M., Brown, D. L., Babaliaros, V., Goldman, S., Szeto, W. Y., ... Smith, C. R. (2019). Transcatheter Aortic-Valve Replacement with a Balloon-Expandable Valve in Low-Risk Patients. New England Journal of Medicine, 380(18), 1695-1705.